quarta-feira, 21 de março de 2012

bola de luz

um dia, no alvorecer...
sem pressa ela surge. existe todo um preparo, um cenário, uma trilha sonora. tudo isso, antes de ela chegar. e isso leva um tempo. ou dois.

as cores chegam antes dela. inclusive, sem ela, as cores nem existiriam. caso não saibam, para existir cor, é preciso haver luz. afinal, o preto é a ausência das cores. o branco, a soma de todas elas.

primeiro, vem o azul. mas hoje o cinza o cobriu parcialmente. começa sem força, sem vida. contudo, basta o relógio juntar seus ponteiros na dúzia, que você o verá intensamente pigmentado. se levanto o olhar em direção à esquerda, vejo através da janela, ainda molhada da chuva da madrugada, uma mistura de laranja e branco, como em obras de arte. realmente, é digno de uma moldura. 
agora o cinza manchou toda a tela. nem azul nem laranja.

além de ver, eu ouço. tem o galo que canta desde cedo, quando ainda tudo era preto, os pássaros que gorjeiam voando para lá e para cá e os motores dos carros e ônibus que roncam enquanto deslizam pelo chão escuro com listras brancas e amarelas. o cinza também faz som; som de água.

o vento leva o tempo. e o cinza, que pouco resiste ao calor da bola, passa a dar lugar ao azul, que já está mais definido. e ao branco, ou melhor, aos brancos, que assim como nas obras de arte, recebem pinceladas de amarelo.

eu vejo, eu ouço, eu sinto.
o cinza é frio, molhado; o amarelo é quente, muito quente. o branco é fresco; e o laranja é agradável. ah, o azul. o azul... bem, este eu não sinto.

quanto mais próxima ela está, mais cores despertam, mais sons ressoam, mais olhos se abrem. e o calor aumenta.
também vejo o verde, de longe, ao redor da cruz. surgem mais cores sonoras que correm depressa nas faixas pretas. só o vermelho é capaz de pará-las.
...
e depois de passar a noite inteira em frente à tela brilhante, os "olhos de diamante", que tanto viram em um simples amanhecer, agora sentem o peso de suas pálpebras, que os fazem adormecer. de súbito, o sono inevitável chega desesperadamente a quem conta a história, que, às pressas, vai até a cama e lança-se sobre ela.

a bola chegou.
e eu não a vi.
dormi.

6 comentários:

  1. Aee... gostei da riqueza de detalhes e da analogia com as pedras preciosas... XD

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    1. escrevi isso entre 4:30 e 5:30. por aí... o sono veio loucamente e o texto ficou inacabado. rs

      obrigado e obrigado pelo título. ;)

      abraço, Arthur.

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  2. noooooossa, que lindo lindo!
    belíssimo post. quanta riqueza de detalhes!
    viajei.

    abrç!

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    1. linda mesmo é a natureza de Deus, que nos dá tantas ideias só ao vislumbrá-la. :)
      muito obrigado, rafa. obrigado pelo esforço em ler o texto. ;)
      sua sugestão está guardada e espero realizá-la o mais breve possível.

      abraço, Rafa.

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  3. Rodrigo, sabe que adoro seu blog né!?
    E quando vc me resolve ser poeta, ou literato, me torno mais fã ainda.
    Parabéns pelo texto, ele é incrível.
    Sem mais!

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    1. muito obrigado, WC, pelo carinho e assiduidade.
      esse feedback que recebo de você e de todos que vêm aqui e comentam, curtem, me motiva a continuar. :)

      abraço, WC.

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